domingo, 29 de março de 2015

Amizade ou clube de vantagens?


Estava aqui num típico domingo de outono, mais parecido com primavera quando o assunto que me instiga há semanas não aguentava mais e precisava sair.
Hoje em dia, trabalhando há quase 10 anos na mesma empresa noto uma coisa sobre o comportamento humano em grupos, muito provavelmente vcs podem ter notado isso antes de mim, mas quero falar do assunto sob um ponto de vista mais peculiar que o normal.
Bom, vamos começar do jardim da infância. Quando chegamos na escolinha e temos independência sobre nosso próprio xixi começam as seleções, isso mesmo, seleções. Quando pequenos nos baseamos muito em imagens e um grupo sempre é formado levando primeiramente em consideração a aparência: as pessoas mais bonitas e com mais dinheiro se agrupam, desprezando as outras crianças que dariam o dedo mindinho para sentar com os coleguinhas "top" no recreio. Desde cedo já começa a ostentação de brinquedos caros, roupinhas da moda, penteados fashion, do "eu tenho olhos azuis e sou linda, você não tem e é feia". Meu pai  é médico, o seu é mecânico, minha mãe vai no cabeleireiro e a sua vai te buscar com bobe no cabelo, meu cabelo é liso e o seu é pichaim,  meu canhorro tem pedigree o seu é vira-lata, eu passo férias na riviera de são lourenço e você no boqueirão , enfim, coisas que já conhecemos.
Aí então crescemos, e fazemos parte ativa de uma sociedade adulta, vamos trabalhar na empresa que achamos ser de nossos sonhos, fazendo e doando o melhor de nós. Existem algum problema nisso? Por favor, não pense isso! Não existe nenhum problema, inclusive , aos que conseguem continuar fazendo isso tudo mesmo em meio as  adversidades que passa, meus parabens! Mas calma, chegaremos lá em um instante.
Voltando ao foco desta crônica, o que você não esperava é que o que te aconteceu lá no jardim da infância e provavelmente por todo período escolar , ganha "poderes" e volta muito pior. Começam os julgamentos sobre sua aparência, peso, status social, e analisam se te chamam para o almoço ou não. Se trocam mais que meia duzia de palavras com você ou não. Se quando existe uma possibilidade de ascenção você fará parte do clube ou não. Não importa se você é capaz, importa se você fara parte do clube, se você tem perfil para fazer parte daquele seleto grupo de amigos ou não.
Para fazer parte, você tem que deixar a sinceridade e vontade própria de lado,  você tem que concordar com todos quando falam mal de uma pessoa e depois abraça-la como se ela fosse um órgão vital em sua vida. Aceitar perder um fim de semana gostoso com a família  e ir a casa do "presidente" de clube para que ele possa ostentar para você e sua família a casa nova, a churrasqueira nova, o carro novo. Aí você não vira escravo apenas dos fins de semana, no facebook você tem que curtir as fotos do fim de semana no resort em que os coleguinhas foram jogar golf. Detalhe, pagam uma fortuna no aluguel dos aparelhos mas ninguem sabe jogar coisa nenhuma, a gente percebe pelas posições... Depois você  tem que postar fotos que garantam ostentação também, afinal você é membro do clube e não pode ficar para trás. Adeus finais de semana de levar as crianças para brincar no parquinho do bairro, reunir seus verdadeiros amigos,  colocar a mesa da cozinha no quintal e  fazer aquela polenta com frango engordurada que fazia a alegria da galera de domingo. Dizer adeus  a sua comida preferida, o saudoso arroz , feijão e ovo. Porque agora a sua nutrição é gourmet.
Seus amigos de infância, aqueles verdadeiros, que você dividia o pão com manteiga e o achocolatado, vão ficando para trás. Você não tem mais tempo para eles, o contato com eles se resume agora em um bom dia 2 vezes na semana pelo what´s app. Seus animais de estimação que te amam de verdade, são deixados de lado por seu estresse e sua falta de tempo.
Depois de tudo isso, penso: Será que vale a pena deixar tudo isso pra trás , só pela busca de reconhecimento de pessoas que não estão nem aí para você e para sua família?  Abraçar e expor sua família a confraternizar um tempo precioso com essas pessoas que na verdade só querem sugar o que você pode oferecer no momento e quando você mais precisar de um amigo, lhe virarão as costas e ainda falarão mal de você?
Será que vale a pena trocar a companhia dos amigos de verdade, gastar toda sua boa vontade com gente que não dá valor nem para uma agulha que você faça?
A resposta depende dos seus objetivos. Existem aqueles que desejam sacrificar os verdadeiros bons momentos pois o orgulho e a busca pelo status está acima de tudo. Mas existem também aqueles admiráveis que falamos logo acima. Que apesar de todas as adversidades e da falta de reconhecimento continuam fazendo o seu melhor pois não sabem fazer de outra maneira.  No clube desse tipo de pessoa a entrada é livre, as exigências: são honestidade,  humildade, humor, respeito e disposição. Pois como diz uma frase de autor desconhecido: Cada um oferece aquilo que tem.


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